sábado, 4 de dezembro de 2010

Dois textos de 2009

Infância




A falsa crença na eternidade inutiliza relógios
mera decoração em pulsos infantis.
No impulso de crescer, ora, crescem
-as crianças-
e guardam em caixas tristonhas sua eternidade alegre
viram a ampulheta, até então estática
então, céticos, cegos, senis,
contam o tempo batendo pernas de ansiedade
e medo da ampulheta parar novamente.


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Lembrança





Em uma tarde vazia, eu fazia planos de que já me esqueci, e me veio aquele cheiro (talvez perfume), por nem um segundo ficou e o tempo já parou. Franzi a testa, mordi os lábios, olhei pra cima tentando lembrar, mas não lembrei.
Nãããão! O tempo volta a passar e o cheiro simplesmente se vai sem me fazer recordar do que ou de quem era. Sorrio mesmo assim. Não sem antes dar um longo e quase doloroso suspiro.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Proólogo: Professores de arte têm a definição de sublime melhor que a de um dicionário (que por sua vez, tem todas as demais definições melhores que as dos professores de arte). A arte sublime é aquela que contém todos os aspectos da arte: Técnica, expressão, beleza, entre outros. Enfim, não cabe a mim definir a arte sublime, já que não sei apreciá-la devidamente. Descreverei portanto, algo que conheci em 2010, um momento sublime. Um momento sublime é um momento onde todos os aspectos da vida são agradáveis: A temperatura, o som, o gosto, as memórias, são todos positivos e aparentemente eternos (o que, de certa forma, contraria a própria vida - fato aceitável - já que a vida é presumidamente infeliz) É como o sentimento do jogador que acaba de fazer um gol na final da copa do mundo, sem a euforia. É um deleite que parece, realmente, sem fim. Em um momento sublime flutuamos (metaforicamente, é claro).



1'39''

Espero que um dia eu seja um senhor sofisticado. Que saiba cozinhar, apreciar boa música e boa companhia; quem sabe até um bom vinho (hoje, só gosto mesmo do Campo Largo tinto: Quase quatro reais e não precisa de saca-rolhas), uma conversa saudosista e uns sorrisos sinceros de saudade. Quem sabe um dia eu dê risada de como eu era irresponsável e despreocupado, de como me divertia com um churrasco quase cru feito pelo Mineiro em Laguna, cerveja e meus amigos, e pensaria: "Ora, essa era minha idéia de dia ideal quando tinha 19 anos!"

Talvez, então, eu, "velho", considerasse ideal um domingo acordando meio dia, churrasco com os filhos, talvez alguns bons amigos, cervejinha. Crianças indo dormir na casa da avó e uma noite romântica com minha esposa (não que me imagine, necessariamente, casado). Uma noite romântica, incrivelmente, envolveria um JANTAR! Fico imaginando se em algum momento desse dia o mundo pararia comigo no centro dele, em um êxtase silêncioso, um minuto de felicidade plena, sem qualquer pensamento ruim atrapalhando. Um momento sublime. Acho que sim. Talvez por alguns segundos isso acontecesse.

Mas os segundos são fugídeos e passam, cada um, em um segundo! E logo o dia iria escurecer, o tempo iria passar, e a reunião que eu tinha marcado com alguem de quem eu nem mesmo gostava, segunda-feira, para fazer negócios, já invadiria minha mente impiedosamente. A felicidade adulta é efêmera. Seus picos são raros, e cada pequena alegria (jantar, vinho, conversa, companhia) é insuficiente, mas reconfortante. Talvez por isso sejam todos tão saudosistas.

Talvez, quando adulto, eu tenha momentos sublimes. Porém, o mais longo e sublime dos momentos de minha vida, creio já ter vivido, o que me faz, por um lado, feliz, justamente por tê-lo vivido e sabido do quão sublime foi. E por outro, triste, por ter pouca esperança de repetí-lo.

Era um dia de Feveiro. E era típico de fevereiro, portanto, canaval. Eu e doze amigos em Laguna, em uma casa onde cabiam, estourando, oito. O chão grudava de cerveja derramada. O miojo estava na mesa, e todos comiam, menos eu. Já tinha terminado, e não aguentava mais miojo (ainda mais naquela leva onde havia o miojo do sabor CAMARÃO). Fiquei ali sentado na escada que dava acesso ao segundo andar, tomando uma cervejinha, conversando e rindo com todos. A cada poucos minutos subia e trocava de música (havia uma caixa de som eternamente ligada no andar de cima), colocando sempre alguma que fosse causar repercussões como o pessoal começar a me criticar, elogiar, cantarem como loucos, ou sairem todos dançando (essa era a reação típica à música do Top Gear da fase de Los Angeles). Todos terminaram de comer, cada um lavou seu prato, e ficaram por ali, alguns conversando, outros "cesteando". Fui até uma das varandas, para a qual o acesso era somente via janela, já que a porta estava emperrada. E, com o perdão de fazê-los imaginarem a cena, de cuecas, deitei-me sob o sol escaldante do meio dia. Ventava uma brisa fria que contrabalanceava perfeitamente o calor. Liguei o Ipod de algum deles, acho que do Carlos, e cliquei em no "Random". Por 1 minuto e 39 segundos flutuei, de cuécas em uma varanda em laguna, carnaval, praia, amigos, bebida, mulher, Seaside.

Espero que um dia eu seja um senhor sofisticado, mas que ainda sinta prazer no miojo, no churrasquinho mal feito, na geladeira vazia em não-alcoolicos, do "ponche" do Pufinho, dos condimentos para miojo do Tunico, da minha casa na areia da praia, do violão (mal) tocado pelo Carlos, da risada amigável do Edegar. Espero, porque o vinho caro e o jantar sofisticado; a vida de médico e os negócios; as férias com os filhos e a esposa; Nada do que possa acontecer em uma vida possivel vida ideal futura poderia ser tão sublime (ou, de acordo com o Aurélio, Elevado acima de todos) quanto aquela breve solidão, antagonicamente em meio aos meus amigos, escutando Seaside.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O espelho espelha o nada


Hoje acordei meio cedo, indisposto
lavei o rosto, deixei o resto
e me livrei daquele gosto indigesto
não que esse gesto desfaça meu desgosto

e espelhava, o espelho, as olheiras
e eu olhava, olheirado, o espelho
se entreolhavam, os dois, olhos vermelhos:
quatro; aguardando as sextas-feiras

Hoje eu saio cedo e volto tarde
e passarei, em claro, a madrugada
sempre passo, por protesto, contra nada
o "nada" habita minha vida, covarde

carrego olheiras porque acordo cedo
porque caminho, sem sentido, na cidade
olhos vermelhos de infelicidade
e desgosto; e rotina; e sono; e medo

pois sou covarde e sou nada
covardemente os dias passam sem sentido
agora sem métrica, sem rima, sem rumo:
espelha, o espelho, o nada: Eu!


a última estrofe não rima, mas ela avisa que não vai rimar.
esse é um texto com grandes possibilidades de ser apagado em breve por "insuficiência de qualidade" para permanecer aqui, hehe.

domingo, 21 de novembro de 2010

a mais bonita das coisas

este texto é de mais interesse da minha família, mas os demais leitores, sintam-se à vontade para lê-lo.

A MAIS BONITA DAS COISAS

O telespectador que pega o filme no momento em que o mocinho morre, não chora ao vê-lo morrer. A toda arte que quer impressionar ou comover é necessário um contexto: ver o mocinho conhecendo a mocinha, saber de suas façanhas, suas forças e fraquezas são pré-requisitos para chorar ao vê-lo em seus últimos momentos. É preciso saber a importância de um fato antes de ser, por ele, comovido a ponto de derramar lágrimas. A mais bonita das coisas sempre precisará de um contexto bonito para tornar-se - com o perdão da repetição - bonita, a mais. Por isso faço-lhes essa introdução breve antes de transcrever algo que recentemente li e me emocionou bastante, sendo à partir do momento em que li, a mais bonita das coisas. Não a história que contarei, nem mesmo o texto, e sim aquele meu momento, só eu e um papel impresso por um tio meu. O proológico passado me deu subsídio para chorar e para assim considerá-la: A mais bonita.

Minha mãe, Isabel Cristina, é a mais nova dos cinco filhos da dona Leda (Maria de Lourdes) e do Seu Hélio (o qual não tive o prazer de conhecer). Entre ela e seu irmão mais velho, Airton, há 18 anos de diferença. Como é de se imaginar, ela era o xodó dos mais velhos, apesar de que quando nasceu, nem o Airton nem a Miriam morarem na casa dos pais (imagino eu). Nasceu e cresceu em Santa Maria, em meio aos irmão e vizinhos. Eles não eram ricos. Talvez não fossem necessariamente pobres, mas sonhar com um futuro maravilhoso, com toda a família morando em Florianópolis era um sonho demasiadamente grande para a família interiorana do "milico" e da dona-de-casa (meus avós).

Porém, ao contrário do que possa parecer, meu texto não tem minha mãe como atriz principal, o mocinho é meu tio.

Não vou mentir, entre meus tios por parte de mãe, o que eu menos tive contato é o tio Airton, talvez pela distância geográfica entre o córrego grande e o estreito, talvez por ser novo demais e não compreender um homem tão complexo como ele (e isso absolutamente não quer dizer que gostasse dele menos que dos outros). Lembro que sangue italiano não só corria em suas veias, mas saltava por seus olhos, transparecendo no gestuário exagerado, na forma de falar, era um "gaúcho italiano" típico. O pouco que conheço de sua riquissima história fala de viagens incríveis, conquistando amigos em todos os cantos com seu carisma inigualável.
E lá de Santa Maria, da simplicidade da família e da vizinhança, o baixinho tio Airton foi ganhando o mundo com seu jeito divertido e exagerado. Formou uma família linda na ilha mais linda do sul do Brasil. Me lembro das festas, dos churrascos no tio Airton e na vó Leda, onde sua presença contando piadas e "causos" era primordial. Sempre o vi como um homem agregador, e acima de tudo, um homem forte e confiante. Apesar de ser baixinho, era um gigante. Era aquele que fazia todos rirem, e, logo depois, todos chorarem. Era um artista.
Um dia, eu, pequeno, assistia televisão quando fui surpreendido por uma notícia: O tio Airton tem câncer. Eu não sabia muito bem o que isso significava na época. Mas passou. E passaram-se anos em segundos, e aquela doença voltou e o levou. Levou um homem saudável, forte, querido, com uma facilidade incrível, trazendo enorme sofrimento para todos amigos e família. Levou meu tio, antes mesmo que eu pudesse desvendar aquele homem incrível.

Não posso reclamar que não tive a chance de me despedir dele, porque um dia eu assistia televisão na casa de minha tia, Miriam, e ele, já levemente debilitado, conversava comigo amigavelmente, e riamos juntos. E pensei "poxa, como o tio Airton é legal, como as histórias dele são interessantes, eu poderia passar horas, dias, ouvindo ele". E então, totalmente fora de contexto, ele disse:
-Tu sabes que eu te amo né guri.
Eu reagi com espanto. Ele continuou :
-Apesar de não termos muito contato, espero que tu saibas que eu te amo, que eu gosto muito de conversar contigo...

Claro que as palavras exatas não foram estas, porque minha memória não me permite lembrar com extidão. E respondi com muita sinceridade que o amava também.
E quando cheguei em casa e me encontrei sozinho em algum momento do dia, chorei calado. Chorei antecipadamente a falta que o tio me faria. Foi uma despedida silenciosa, mas não menos triste. Porém, ele ainda voltaria para se despedir de mim algumas vezes:

O reencontrei em meu quarto esses dias: Minha mãe, revirando suas lembranças materiais, encontrou um papel, o qual já citei acima. O papel continha letras de computador impressas e uma foto, a qual anexarei a esse texto. Apanhei o texto e o li sozinho, em meu quarto. Eu sou chorão, como ele, e no meio do texto já tinha que fazer pausas para secar as lágrimas. Após ler, chorei durante minutos, talvez uma hora. E me emociono a cada momento que relembro daquele texto, da mais bonita das coisas do mundo, assinado pelo simples "codinome" Airton.

O conteúdo, transcrevo na íntegra nas linhas abaixo, não sem antes deixar minha tristeza registrada aqui, pela falta que me faz o meu tio, meu amigo que eu amava. Pela falta que me faz esse "Big Fish" de Santa Maria. Espero que haja algo de Tio Airton aqui na Terra, um pedacinho dele em cada um de nós, que o que ele fez em vida ecoe, como ecoa em mim, agora, escrevendo, como ele próprio escrevia (é claro que o faço com menor qualidade, mas dêem um desconto, ainda sou novo).

Me emociono com a importância dedicada a mim (apesar do texto dele falar da minha mãe), uma criança, dedicada por um homem tão importante e sábio. Não me sinto merecedor de tamanha homenagem, e ofereço esse texto como um proólogo para o seu, tio. Um proólogo mais longo que o próprio texto, e que não está a altura do mesmo, mas que tem a sinceridade de uma criança. De uma criança que tira uma foto em frente a uma loja de brinquedos, com a mãe.

Agora que já considero o leitor leigo, no caso, aquele que não conhece minha família, devidamente ambientado e contextualizado, permito que leiam exatamente o que li:

TUA FOTOGRAFIA

Era uma menina e estava parada numa calçada qualquer de Nova York. Não sorria, mas não estava triste. Abraçava um menino bem menor, de cabelos dourados que também não sorria mas demonstrava a tranqüilidade de quem estava seguro e protegido.

O menino talvez sonhasse, pois estava em frente a uma loja de brinquedos, segundo o que sei, uma das maiores lojas de brinquedo do mundo (interessante como Nova York gosta de ter as “maiores e melhores” coisas do mundo, enquanto que um simples pôr-do-sol é infinitamente maior que qualquer coisa grande ou “maior ou melhor”.).

Ocorre, no entanto, que a menina que abraçava um menino menor, fora também uma menina menor e também deve ter parado em frente a lojas de brinquedo. Naquela época, essa menina talvez sonhasse bem menos, bem pouco talvez... Brincava com coisinhas simples, pequenas bonecas, carrinhos de vime pintados para suas bonequinhas dormirem, aquecidas por pedaços de toalhas feito cobertores. Creio que ela cuidava bem das suas bonecas, dos seus brinquedinhos simples, dos seus sonhos bonitos de menina.

Nova York parece fria e indiferente para aquela menina e aquele menino menor, abraçados, frente a uma grande loja de brinquedos. Mas o que é, afinal, a grande loja, perto dessas duas crianças abraçadas? É apenas um prédio enfeitado, frio e apelativo, buscando dólares com os quais, às vezes, compramos sonhos caros em Nova York.

Displicente, um homem passa pela rua, olha a loja, e nem percebe uma menina maior abraçada num menino menor.

E nem todo o esplendor de Nova York ou da loja de brinquedos maior do mundo, tem o mínimo valor, perto das batidas dos corações da Menina-Mãe e do Menino-Filho, abraçados, frente a uma loja de brinquedos, num dia qualquer, no centro de Nova York.

Para Thí e Tite

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Mudar seu status do orkut e colocar uma frase no msn chamando o povo de burro por ter eleito alguém não vai ajudar ninguém a chegar a lugar algum. E ainda expõe sua ignorância: O povo brasileiro é ignorante por ter nascido dentro das fronteiras brasileiras, e por isso votou na Dilma? Ou é ignorante porque não lhe foi provida educação necessária por aqueles que vocês achavam que deveriam ganhar essa eleição, e por ser ignorante, é pobre, e por ser pobre, vota em quem põe comida na sua mesa?

Não entendo nada de política. Assumidamente. Vejo muita gente que não entende nada criando opniões incoerentes ou usando as idéias de terceiros, sem interesse algum em argumentos contrarios. Aceito ignorância de quem não teve escolaridade, mas deixo minha indignação com aqueles que protestam com suas bundas gordas sentadas na frente de um computador, diploma na estante (ou pelo menos um atestado de matrícula) sem nunca ter ido a uma reunião de partido, nunca ter se interessado por política. É como aqueles que nunca chutaram uma bola na vida e se tornam Vanderleys Luxemburgos na copa do mundo.

ps: Não sou Dilma nem Serra
, nem sociologista. Na verdade nem médico eu sou, por isso não dou minha opnião sobre política. Mas sou pessoa, e só sobre pessoas opino.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E O SENTIDO DA VIDA

continuando a série de textos longos e cheio de erros no tempo verbal e pontuação, que certamente pouquissimas pessoas tem a paciência de ler...

Medicina Baseada em Evidências e o Sentido da Vida

Há milhões de artigos médicos disponíveis para a leitura, tanto na internet como em livros e revistas. Ninguém em sã consciência os leria, pois além da terminologia dificílima, não são de grande utilidade para a população em geral. Porém, assim como há pessoas que comem grilos e até cobras, há seres perambulando os corredores dos hospitais que apreciam um artigo científico: Eles sabem que o conhecimento que possuem de experiência própria não se compara àquele que adquirem ao estudarem, através dos artigos, todas as evidência que os leva a fazer certo tratamento, procedimento diagnóstico ou a dar um determinado prognóstico aos seus pacientes. Estes seres tem nome e sobrenome: Bons Médicos.

Roberto (ou Dr. Roberto, ou até mesmo MD PhD Roberto) era um desses homens: Dedicado à profissão como poucos, estudava todos os dias, atendia seus pacientes e ainda dava aulas. Não tinha isso como um sacrifício: Era o seu dever como médico. Todos os pacientes que passaram em suas mãos receberam o melhor diagnóstico, o melhor tratamento e tiveram o prognóstico mais preciso possível. Todos ficaram o mais saudáveis possível (ainda que, muitas vezes, o mais saudável que se pode estar seja morto) após suas intervenções baseadas em evidências.

Dr Roberto, um dia, adoeceu. Novo, cinquenta e cinco anos; estilo de vida saudável, caminhava e nadava semanalmente. Mas o legado de hipertensos e diabéticos com complicações cardíacas precoce que dizimava os ascendentes da família materna antes dos 60 anos o pegou. Roberto morreu aos 57 anos, após seu terceiro infarto agudo do miocárdio. Todo seu conhecimento morreu ali, naquela enfermaria sombria onde passara os últimos meses de sua vida. Tudo o que lera, aprendera, ensinara acabava ali, no corpo frio sobre a cama fria. Em seu último pensamento ainda questionou-se se jogara sua vida fora estudando. Felizmente morreu antes de se responder.


-Doutor Roberto, foi tudo em vão.

Anos depois (talvez 50), seus pacientes todos morreram, das mais variadas formas. Pouco importava os anos de sobrevida que tiveram após o atendimento do doutor. Pouco importava o que aprenderam, ensinaram, sorriram e choraram depois. Estavam todos mortos, e não recebiam nem davam nada a ninguém a não ser a tristeza de não existirem mais aos que ficaram.

-E as consultas foram vãs.

Muitos e muitos anos passaram e todo o conhecimento deixado por ele, após ser usado de alicerce para conhecimentos ainda mais sólidos, desmoronou e ficou esquecido.

-E os artigos foram em vão.

E no fim nada mais restou do Dr. Roberto e qualquer ação realizada por uma célula aderida a seu organismo foi irrelevante para o andamento do universo. Pouco importava a regulação hormonal que jorrou em seu corpo e o fez feliz ou triste durante a vida; pouco importavam as numerosas conexões elétricas neuronais que ele chegou a ter um dia. Pouco importava tudo: Estava morto e esquecido, como tudo um dia há de ser.

E só então, numa hipotética e provavelmente inexistente consciência após a morte, Roberto percebeu que a evidência mais importante ele nunca chegara a analizar em vida: Das aproximadamente 106.456.367.669 pessoas que viveram na Terra até hoje, 106.456.367.669 morreram. A incidência de morte é altíssima para quem vive. Viver é, sem dúvida, a doença mais comum e mais letal conhecida pelo homem. Viver é irrelevante, tudo é.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

paradoxos


Não há nada como uma madrugada fria fazendo planos e lendo - o que é paradoxal - já que ao fazermos planos enquanto lemos, perdemos o fio da meada da leitura: Os olhos vêem as palavras e as lêem. Vez ou outra a boca os acompanha em vóz baixa. Porém, alheio, o pensamento permanece distante, fazendo planos que serão esquecidos no dia seguinte. Finalmente, ao fim de uma página, percebemos que não entendemos nada do que lemos. E relemos.

Sobre este paradoxo, de se fazer duas coisas ao mesmo tempo e nenhuma dar certo, li uma história do Veríssimo (o filho). Ele cita uma paradoxal crença de outrém no fato de que o melhor leitor é o insone: De que adianta ler a noite toda e de dia parecer um zumbi?

E ao tentar, numa noite de insônia quase forçada, ler Os Lusíadas, numa autoavaliação da evolução de minha capacidade de leitura desde a sétima série do ensino fundamental (quando tentei lê-lo e nada entendi), falho. Culpo o autor: Pobre Camões! De que adianta ter todo conhecimento literário do mundo e a linguagem mais rebuscada se nem um por cento da população o compreenderá?

Na foto lá de cima, Jim Carrey, como Deus, o cara que pode fazer tudo. Pode inventar tudo, criar tudo, levantar tudo (?). Pode até criar uma pedra tão pesada que nem ele mesmo possa levantar. E pôde ajudar o SPORT CLUB INTERNACIONAL a conquistar o mundo em 2006 (e pode nos fazer campeões esse ano). Maldito Deus de 1983...

quarta-feira, 13 de outubro de 2010



Ser ruivo




Vi, num desses domingos, um ruivo andando de bicleta. Eu andava de bicicleta, ruivo como sempre. Nos olhamos, com um misto de vergonha e respeito. Envergonhados como se estivéssemos conhecendo aquele amigo que cultivamos pela internet por um longo tempo e, ao finalmente o conhecermos, ficamos sem assunto (não, eu não tenho amigos pela internet). E respeitosos por sabermos tudo um sobre o outro em um olhar. Eu não sabia, e não sei, seu nome; nem lembro de seu rosto; mas sentimos, num breve olhar que serviu de cumprimento, todo o martírio e as glórias do outro. Eramos ruivos e andávamos de bicicleta, na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma rua, e no mesmo lado da rua.

Em um instante, no entreolhar dos dois, vi em seus olhos que os coleguinhas dele, desde a pré-escola, o apelidaram de milhares de nomes relacionados à cor do cabelo. De ferrugem a cenourinha, passando por fósforo e diversos tipos de refrigerantes. Ele viu, nos meus, um amigo de meu pai, que ao descobrir que eu nascera ruivo, o confortou: "Pode ficar tranquilo, Funk (esse é o sobrenome do velho), melhora com a idade". Ele me viu querendo pintar o cabelo (nunca pintei), querendo ter sobrancelhas humanas. O vi chorando, sendo o patinho feio da escola, ouvindo de todo lado "menino de cabelo vermelho é sempre assim arteiro".


NOSSO CABELO NÃO É VERMELHO! É ruivo. Cabelo vermelho só se tem pintando; ruivo, só ao nascer (e não "melhora" com a idade em alguns casos como o meu). E não só o cabelo, o corpo todo de um ruivo (e sua personalidade) são ruivos também (não me entendam mal, não estou falando de pêlos). O ruivo é, por si só, assim como o gordo e o alto, um ponto de referência: "Ele tá ali, entre a árvore e o ruivo". Em um jogo, se há 11 jogadores, há 10 jogadores iguais e um ruivo.

Voltando à histórica "entreolhada" dos ruivos de bicicleta, vimos as pessoas nos comparando a qualquer ruivo, seja algum que seus amigos vêem na rua ou os famosos. Há... Os famosos! Outra fonte de apelidos: Ferrugem (com letra maiúscula é diferente, é um antigo VJ da MTV), Michel do Big Brother, Cabeção da malhação, e, finalmente, o mais comum: RONY WEASLEY. Eu não me pareço nem um pouco com o ator que faz esse papel nos filmes do Harry Potter (Rupert Grint).
Vi que as pessoas nunca esqueciam dele: Colegas e professores lembravam de suas feições mesmo dezenas de anos após terem estado juntos. Vi que muitos o achavam feio, mas ainda havia aqueles que só o consideravam diferente, talvez até exótico, misterioso (normalmente, a menina mais estranha e alternativa de sua sala). Vi pessoas o questionando, diversas vezes, sobre a cor de seus demais pêlos. Ele viu, em mim, que havia quem, vez ou outra, perguntasse: "Como é ser ruivo?" e eu, mentiroso, respondia: "É normal". Dizem os clichês (que pra mim são personificados em velhos chatos que querem nos dar conselhos inúteis), que ninguém é normal de perto e que todos somos diferentes, que somos especiais. Um ruivo é menos normal, mais diferente. Experimente toda uma vida sendo tratado como ruivo!

Não há uma sociedade secreta de ruivos (se há, eu não fui convidado), mas existe algo compartilhado, algo um tanto inexplicável, algo vago e impalpável. (Acredito que os japas sintam o mesmo). Sabíamos disso, e, enfim, deixamos de nos olhar, por aquele instante que nos disse tanta coisa, e fizemos um breve cumprimento: Um gesto simples que dizia: "É... Somos ruivos... E estamos de bicicleta". E passamos um pela vida do outro, com uma troca de experiências curta mas efetiva, como toda conversa deveria ser.


ps: Meus pais tem cabelo castanho. Meu parente ruivo mais próximo é um primo em segundo grau e meus parente próximos mais próximos de serem ruivos são meu tio, que tem a barba alaranjada, e meu avô - que um dia o foi - mas agora tem cabelos brancos. Sempre fui acusado de ser adotado, mas tenho o vídeo do meu parto (a não ser que minha mãe o tenha simulado pra me enganar, sou filho deles mesmo).

quarta-feira, 8 de setembro de 2010


Fugindo completamente de qualquer assunto citado neste blog, escrevo esse texto à meia noite de quarta feira. Infelizmente, a qualidade do texto não resgata a dos antigos, e sim, segue decaindo como os recentes.


Estou enjoado de erotismo barato: Aquele que custa (contraditóriamente) caro, de mulheres "perfeitas", aquele que usa photoshop, videoshop, ou o que quer que seja para retirar as necessárias celulites. Aquele do sexo sem história, da mulher que geme sem prazer, das mega-produções pornograficas. Não há formula da mulher "gostosa", não há centro da beleza. O que há são conceitos subjetivos, ora. Há quem ache até mesmo uma criança sexualmente atrativa (sim, isso é desprezível...).

Estou enjoado da Playboy, do redtube, das brasileirinhas, das mulheres de silicone na bunda e peitos. A sexualidade, na sociedade, e especialmente na mídia, segue o caminho da vida: Assim como a vida é uma busca por felicidade total e utópica, a busca do sexo parece correr em direção a um eterno orgasmo, intenso e inexiste. Contentem-se com o possível!
Ainda que Larissa Riquelme esteja NUA, insinuando-se em fotos no computador, não tenho nem ao menos uma ereção ao vê-la. Algo está errado, ou comigo ou com ela!


A mulher que vi na esquina, cheia de defeitos e virtudes não existe na playboy , e nunca foi convidada para estrelar um pornô. Quem está lá, na revista, não é uma mulher, é uma imagem. A mulher que tirou as fotos vive sua vida normalmente, tem lá seu marido, namorado, ou o que quer que tenha. Aquela imagem, não. A imagem é poligâmica e pervertida, ninguém pode controlá-la. A imagem é a mulher que você ama e deseja loucamente, aquela com quem você quer deitar-se (nunca fui tão formal quanto ao escrever "deitar-se") todos os dias de sua vida, mas ela NÃO EXISTE. E mais: Se existisse ainda daria pra todo mundo (perdão pela vulgaridade, foi para compensar o "deitar-se"). E você, orgulhoso com seus cornos imaginários, a deseja. E as feias a invejam, e as velhas a criticam, e você entra no EGO.com para saber da vida daquela desalmada foto.

Eu queria uma playboy das mulheres que vejo pelas ruas da cidade. queria conhecer os defeitos e as qualidades daqueles corpos que são tocáveis, pálpaveis e existentes. Queria conhecer as minúcias de seu íntimo e saber do que mais gostam. Erótico pra mim é aquele detalhezinho anatômico que você percebe. Ali, ao vivo, seja na cama, seja quando vê uma mulher no ônibus. Ele é real, está presente, sem photoshop, com ou sem silicone, e é melhor que o redtube, melhor que a playboy, e melhor até mesmo, acredite ou não, que a Larissa Riquelme e o celular entre seus silicones (ela não é tão boa, ela ronca!)

Não estou exagerando, olhe à sua volta: Aquela sua vizinha feia pode ter um belo par de pernas. A tia da cantina pode ter olhos lindos. Sua professora cinquentona pode ser uma especialista em assuntos de cama e o sexo entre ela e o marido, idoso, pode ser melhor do que o sexo que fazes, solitários, com aquela foto, com aquele video. Pode ser melhor que transar com aquela mulher que vês no computador ou na televisão. A estética esteoripada NÃO levará ninguém a um gozo amplo e eterno.

Arnaldo Jabor, em uma das crônicas de seu livro "Amor é prosa, sexo é poesia" disse, à sua maneira, a qual não me recordo (motivo da falta de aspas para sua citação): Pasmem, enjoei até mesmo de bunda.
Eu, do alto de minha admiração pelo corpo feminino, proclamo: "Ratifico suas palavras, Arnaldo, e retifico: Enjoei dessas bundas que não existem".

sábado, 28 de agosto de 2010




A Realidade

Por que os jogos de computador e video-game procuram ser cada vez mais fiéis à realidade se já temos a própria realidade? Nunca um jogo vai ter tantas cores como a realidade, nunca terá tantas possibilidades de movimento e ações, nunca terá tanta interatividade com o cenário, tantos objetivos a serem cumpridos e pessoas com as quais interagir. Por que faço movimentos inverídicos e descordenados com um controle de nintendo wii se podia estar jogando tênis?

Não quero estar um dia, em minha casa, jogando futebol, com 21 pessoas diferentes, cada uma em sua respectiva casa. Eu me perguntaria, então: "Por que não estamos todos juntos em um campo de futebol?". Ao olhar para minha barriga sedentária entenderia o porquê (por quê?).

E a cervejinha de depois do jogo seria solitária.

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Toda vez que vejo Pulp Fiction ( http://pt.wikipedia.org/wiki/Pulp_fiction ) faço a mim mesmo a pergunta da personagem da Uma Thurman: "Why do we feel it's necessary to yak about bullshit in order to be comfortable?". Numa tradução livre e meia boca: "Por que sentimos necessidade de tagarelar sobre qualquer coisa para se sentir confortáveis?".

E sempre percebo que isso é um ótimo assunto para situações onde você está com alguém que conhece pouco e, de repente, aparece aquele silêncio constrangedor. Só não entendo por que o adjetivo constrangedor pode ser usado para algo tão comum e agradável como o silêncio.

Estatísticas da minha cabeça dizem que 99% dos "tudo bem?" significam "olá, não quero parecer antipático", sem intenção alguma de saber se a pessoa está mesmo passando por um período agradável. 50% dos "tudo bem?" são respondidos com outro "tudo bem?", que não é respondido. Os outros 50, com "tuuudo", mesmo que esteja tudo mal. Outras estatísticas dizem que 90% das conversas sobre o clima e sobre o dia visam unicamente quebrar o silêncio.

Então me pergunto se não seria mais fácil somente tirar o "constrangedor" do silêncio ao invés de quebrá-lo como um todo. E só então quebrá-lo, com um assunto que também não o constranja, talvez com um sincero "tudo bem?", daqueles que se responde chorando "não, minha filha de 11 anos de reestart e usa roupa colorida" ou "meu time ganhou e fui promovido, vamos tomar um mate pra comemorar, tchê?".

E ai meus milhões de leitores... Tudo bem?

quarta-feira, 7 de julho de 2010


Bruno



Há alguns anos atrás (2005), o Internacional jogava contra o Atlético Mineiro, em minas. Após um primeiro tempo pouco movimentado, o Inter abriu o placar no segundo tempo com Tinga, após jogada de Elder Granja. Logo após, com o claro domínio o jogo, o Internacional pressionou o Atlético, chutando diversas bolas para o gol, todas salvas pelo jovem goleiro do Atético. O time mineiro chegou ao empate aos 32, com um gol de falta de Rodrigo Fabri. Ao fim do jogo, todos os jornalistas vão direto ao goleiro do Atlético Mineiro, um negrinho ainda muito jovem, que muito alegre dispara frases que incitavam certa curiosidade, "agora minha vida começou a dar certo", "a minha primeira grande alegria", entre outras. Bruno contou que, antes de se sagrar jogador e alcançar a posição de titular, fora abandonado pelo pai e tivera uma infância muito difícil, história não tão incomum entre os jogadores de futebol.

Há um mês atrás, aproximadamente, desapareceu uma mulher, identificada como ex-namorada, ou ex-amante do goleiro do Flamengo, Bruno. Sim, aquele mesmo que pegou tudo contra o Inter em 2005. A mulher, uma "modelo"que afirmou abertamente ter se relacionado com vários jogadores, apesar de não se considerar uma "Maria-chuteira". Afirmava ter ficado com Cristiano Ronaldo, além de vários outros jogadores que atuam na Europa, tendo frequentes telefonemas dos mesmos a chamando para sair. Com todo o respeito, uma prostituta por tabela.

Bruno não é somente um suspeito de tê-la matado, e sim, um foragido da justiça, com quase 100% de chance de ter alguma culpa no crime, que envolve um filho que tinha com a moça.

Uso esse exemplo pra explicar minha última postagem. Bruno é culpado? De acordo com a justiça brasileira, ele deve ter cometido diversos crimes mesmo que não seja o executor do provável homicídio. Porém, vamos aos fatos: Bruno nasceu negro e pobre, e seu pai o abandonou quando criança. Foi, provavelmente, alvo de preconceito, e, por morar na periferia de Belo Horizonte, deve ter tido diversos amigos que tomaram o caminho do tráfico e do banditismo. Ele jogava no Flamengo, onde seus companheiros faziam festas com traficantes, tiravam fotos com armas e presenteavam a mãe dos traficantes com motos. Além disso, o pai foi capaz de abandonar uma mulher com suas crianças, e 50% do material genético de Bruno provém desse indivíduo. Fator genético e meio não faltam para torná-lo um assassino em potencial. Não é uma desculpa para o "caso Eliza Samudio", é um fato.

Outros foram abandonados pelo pai, outros foram pobres, e negros, e marginalizados na periferia, e não se tornaram assassinos. Mas em outras circunstâncias. Se Bruno tinha carga genética e vivência para considerar o assassinato da mulher justo, já que a mesma não o deixaria ficar com filho, ou por qualquer outro motivo, a culpa é de sua carga genética e de sua vivência. Ou de quem seria? Dele? E o que é "ELE" além da genética e vivência? Se você, se EU fosse "ELE", faria diferente? NÃO! Porque o cérebro, e o jeito de agir e de pensar, seria EXATAMENTE igual ao dele. Não há um controle sobre o que fazer e pensar além do corpo (incluindo o cérebro), portanto, todos fariam o mesmo que ele (a não ser que você não fosse filho dos pais dele ou não tivesse crescido e convivido nos mesmos meios dele).

Bruno Fernandes, não por acaso, das Dores, tem de ser punido, mas tem meu álibi.
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Uma explicação do post anterior (que necessitará de posterior explicação)

O primeiro "eu" do outro post não comanda nada. É só o fato de eu mesmo ser esse corpo e ter a consciência nele. O corpo, é o segundo "eu" do outro tópico, e o corpo (incluindo o cérebro - e a consciência) é o que comanda TUDO o que faço e penso. O primeiro eu é só uma coisa que chamamos de alma, que significa que não vejo através dos olhos de outra pessoa e nem ajo através de suas mãos. Se eu fosse ela, seria IGUAL a ela, e faria tudo o que ela faz, e meu segundo eu seria ela.
Sei que parece incompreensível, mas pessoalmente consigo explicar, e no meu cérebro é muito claro.

terça-feira, 29 de junho de 2010




O mistério de todas as coisas

Somos, de acordo com todas as teorias não-bobagens espiritualistas, resultado, basicamente de dois fatores: Nossa genética, e o meio onde vivemos.
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Nossa genética determina a forma como reagimos em relação ao meio e às situações que o meio oferece, ou seja, genes que meus pais me passaram, assim como as pessoas, locais e situações com as quais interagir, são suficientes para moldar meu jeito de ser e de condicionar-me a tomar todas as decisões de minha vida. Se tivesse nascido filho dos pais de Hitler, na época e local em que o mesmo nasceu, eu seria um ditador. Se tivesse nascido filho dos pais de Gandhi, no mesmo local e período, seria um pacifista. Mas nasci filho de Isabel e José, levemente posso me considerar um pensador, questionador, além de chato nas horas vagas...
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Agora vamos aos fatos: Se não há nada diferente de genética e meio que tenha-nos feito o que somos, como podemos culpar aquele indivíduo, que só sente, através de suas conexões axonais e dendrítica, o que o meio realiza sobre ele, sem ter nenhuma possibilidade de reação ao meio a não ser aquela possibilitada pela sua genética e experiências anteriores? Que tipo de livre arbítrio o foi concedido para que optasse, por exemplo, por não estuprar alguém, se a única reação possível a uma eventual excitação sexual for um impulso selvagem, inevitável, inquestionável, impunível, porém, de forma alguma impune.
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Que tipo de escolha temos? Deus ou quem quer que nos tenha criado, fê-nos à sua maneira (imagem e semelhança?), deixando-nos à mercê de nossa carga genética (e os filhos de um estuprador, os filhos dos homens maus?) e de nosso meio (e as crianças abandonadas, as abusadas, aquelas que convivem com a violência desde bebê?), os quais justificam a totalidade de nosso caráter e realização de cada uma de nossas ações, não cabendo a nós mesmos ou a ninguém, nem a um ser superior, julgá-las, visto que são resultado da interação de todas as coisas físicas existentes no mundo (o meio e a genética) sem fator extra algum. Somos condicionados, de uma forma ou outra, por interações hormonais, neuronais, ou de qualquer natureza a realizar qualquer ação que tenhamos realizado ou que estão por vir.
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A minha escolha de utilizar o tempo escrevendo e divulgando esse texto foi condicionada por tudo que já recebi do meio até aqui, além é claro, do material contido em meus cromossomas. Eles sopram no meu ouvido "questione, cara, um dia você descobre alguma coisa ou pelo menos enrola até ficar bem famoso". Mas nunca descobri nada. Nem fiquei famoso. Talvez meus cromossomos e o meio da pseudo-classe-média-alta de Florianópolis não me condicione a isso.


Quem sabe isso que chamam de alma é o que é responsável por eu ser eu, no sentido do primeiro "eu" citado ser esse não-corpo que tem vida e vê através dos meus olhos, realizando as ações as quais está acondicionado pelo outro "eu" a realizar, todo orgulhoso, achando que tem algum domínio sobre algo. Enquanto o segundo "eu" citado, é aquele que é resultado da genética e do meio, abrangindo um corpo e um cérebro que realiza as ações. Em outras palavras, o primeiro eu é aquele sobre o qual a gente não sabe absolutamente nada, a gente só É "ele". Eu poderia, inclusive, ser o meu primeiro "EU" no corpo e cérebro do Michael Jackson (que seria o segundo "eu") e teria feito tudo que ele fez, o mundo seria exatamente igual, o cérebro dele, igualzinho, mas eu teria a consciência dele, veria pelos olhos dele, pensaria como ele. Mas seria eu (o primeiro) lá dentro, fazendo tudo igual o grande Michael (THIS IS IT) fez. Estaria morto agora, vendo tudo escuro e sem pensar em nada. Enquanto isso ele estaria aqui, se sentindo tão feliz quanto estou me sentindo e escrevendo exatamente o que estou a escrever e com um sentimento triste e recorrente de dualidade: O de ter compreendido alguma coisa, essa conversa profunda sobre os dois "eus" o que é bom; porém, com o sentimento de limitação de não ter qualquer escolha, e de não conseguir transmitir de modo CONCISO a mensagem e as informações que queria.

ps: esqueçam aquela bobagem de filme de "estar no corpo de outra pessoa". Se você está no corpo de outra pessoa , você tem o cérebro dela, e pensa como ela, ou seja, você é ela (seu primeiro eu do texto é você, porque você que sentiria o meio e reagiria a ele; e o segundo é a pessoa, visto que a maneira de sentir e reagir, seria a dela.
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Se abortar é matar, uma punheta é um genocídio. E a natureza é assassina, visto que dos milhões de espermatozóides, só UM, e RARAMENTE, consegue unir seu material genético àquele ovócito e se multiplicar pra um dia ser aquela coisa mais ou menos pensante que, de fato e direito, nasce.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

concisões

A impressão que me passaria se fosse, aqui, leitor, e não autor, seria de que o autor acabou de aprender a palavra "concisão" e agora quer utilizar-se dela desesperadamente em qualquer contexto. Espero que não pensem o mesmo.



Concisão I

O quanto as pessoas são agradáveis pode ser medidos em Pi/m. O quanto menos Palavras Inoportunas por Minuto, especialmente os verbetes fúteis e dissimulados (e isso não envolve as piadas machistas e humor adequado ao ouvinte, ainda que sujo), as pessoas falam, mais agradáveis elas são. Falar muito de si mesmo, bem que poderia ser crime, enquanto tagarelar sobre os outros não é indigno de pena de morte. Alguém que não fale absolutamente nenhuma palavra por minuto é mais suportável que um tagarela.

Estou pensando em fazer um certificado-bomba de "não-necessidade de existência" para qualquer um que interrompa uma fala do outro sem logo depois se desculpar, que não seja capaz de argumentar sem expor uma defesa simples e sem rodeios, que permaneça mais de 1 minuto falando sem permitir a fala dos outros, que fale para demonstrar conhecimento ou que narre suas próprias histórias heróicas sem ser extremamente oportuno ou engraçado, sem querer parecer superior. O único impedimento seria a morte de grande parte da humanidade que me cerca, porém, só a vantagem de não correr o risco destas pessoas ganharem algum poder (e, certamente, utilizar-se-iam dele com fim autoritário e anti-democrático), já valeria o risco.

Não é difícil ser conciso e tomar a palavra só quando for oportuno, e o quanto menos o fizer, e mais Pi/m forem arrecadados, pode ter certeza que, apesar da não existência do certificado-bomba, uma grande parcela da humanidade (aqueles que não aguentam discursos com mais de 1024 caracteres) sofrerão de aversão, podendo chegar ao vômito com a sua presença insuportável.

ps: Desisti dos certificados-bombas porque não sou suicída e porque o mundo ficaria meio sem graça só com o Paulinho nele, à la Will Smith em "Eu sou a lenda", com o Zezinho no lugar do cachorro.
pps2: Pessoas que não falam ao serem solicitas ou são concisas demais também são cansativas. Menos, mas são. E quando o são por timidez, o fato torna-se extremamente justificável e aceitável.

Concisão II

Não vá você, feito vuvuzela
vomitar verbetes, 'inda que em bom timbre e tom
(diferente das malditas cornetas)
n'ouvidos cansados de ouvir prosa, meus

não vês que mesmo uma valsa em boa vóz
e boa harmonia e evolução, e compasso perfeito
quando demais se alonga, soa em vão
soa feio, vazio, desnecessário

mas não desnecessário como um capricho,
e sim, como zumbido em ouvido de quem dorme




Sugiro que façam como o Dourado
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terça-feira, 25 de maio de 2010

O porquê da poesia ser mais chata que a prosa e outros

Não há sentido nenhum que eu possa compreender em diversas poesias. Por mais que eu me esforce para fazê-lo, só as velhas professoras cheias de criatividade e interesse podem aferir significador improváveis para textos incompreensíveis como poesias, tendo algo semelhante a um orgasmo ao perceber uma catacrese ou uma metonímia (palavras tão feias e apoéticas), enquanto a população leiga, no máximo, vê alguma graça em alguma rima (há um Quintana de exceção). Em outras, o sentido é claro, mas não enche os olhos, somente narra algum fato prosaicamente. A poesia é, portanto, ou incompreensível por simplesmente não exprimir significado lógico, somente artístico; ou prosa, visto que é lógica, porém não arte.
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O motivo disso é que a poesia, ao contrário da prosa, é feita para agradar o autor, e não o leitor. Ela é, muitas vezes, enquanto arte, uma roupa fina que alguem teceu para admirar-se em frente ao espelho, e distinguir-se do povo cinzento que caminha nas ruas. Vez ou outra, porém, ela cabe perfeitamente em outras pessoas, agrandando-as, eventualmente, mais que ao próprio autor. Para outras pessoas, ela não tem nem pé nem cabeça.

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Como homem, ogro e indelicado, não compreendo bem Cecília Meireles, ao passo que mulheres sensíveis o fazem perfeitamente bem. Posso compreender com minha visão simplista Mário Quintana (e desconfio de que todos possam) assim como Fernando Pessoa pela multiplicidade de facetas. Suas roupas me cabem perfeitamente bem. Professoras velhas de português têm, em geral, o "corpo poético" adequado para qualquer roupa que experimentem. Ou ao menos, ao verem-se no espelho vestidas de poemas, enganem a si próprias: "não está tão ruim assim..." e acham lá alguma figura de linguagem para admirar.

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O Fim

Infelizmente, ninguém vive feliz pra sempre. Os contos de fada são meras simulações de vida eterna contadas para crianças que terão essa ilusão desfeita pela morte do peixinho mais tarde. Assim como o peixinho se foi, a branca de neve, os sete anões, a bela adormecida, estão todos mortos (Dercy e Michael Jackson, por incrível que pareça, também), portanto, não estão vivos, muito menos felizes para sempre.

Se no filme, o mocinho não morreu na guerra e casou com o amor de sua vida, eles depois hão de ter ficado velhos e infelizes, morrendo logo em seguida. Em qualquer filme que se passe em tempo anterior a 1890, todos os personagens já estão mortos, e, mesmo se esse fato não ficar claro no cinema, mesmo que, durante o filme, tenham sobrevivido aos maiores perigos, os personagens já padeceram de modo que, se exibida sua agonia, faria com que as velhinhas do cinema c
horassem silenciosas.

Feita esta nem tão breve introdução, deixo claro que não acho ruim que as histórias sejam contadas pela metade. De fato, acho ideal. A utopia de vida eterna, ou ao menos de continuidade da mesma a curto prazo, é o analgésico que usamos para superar o medo da morte, o maior e mais irremediável (talvez o ÚNICO irremediável medo). A impressão correta de que tudo no fim é morte, é nada, e que esse nada nos é completamente subjetivo e desconhecido assusta tanto que não deve ser levada a todas as cabeças pensantes e não-pensantes do mundo, evitando-se que vivamos todos com o medo aflorando a cada segundo. Escondam a morte das crianças e dos inseguros.
Keynes fez questão de falar, lá pela década de 20, que todos estaremos mortos a longo prazo, e isto me assusta e me conforta. Assusto pelo simples significado da frase, que me relembra que a morte me espera certo dia. E alivia porque a citação que faço tem mais tempo de vida que seu autor. A citação é imortal, a palavra o é. E ainda posso citar Platão, Jesus, entre outros, donos de frases e escritos que sobrevivem milhares de anos, que beiram a eternidade se comparados ao tempo de uma vida humana. Até mesmo Sócrates, que viveu há quase 2500 anos e não deixava registros escritos é lembrado. É um alento, uma faísca de eternidade que aparece na entrelinha dessas vidas humanas que vão e vem todos os dias.

Minha vida não é feliz nem triste. Já tive perdas e ganhos, e sei de infortúnios maiores e menores. Torço sem saber por que para que ela se prolongue o máximo possível, e que seja como uma grande produção hollywoodiana que deu certo e vai ter diversas continuações. E que mesmo a última delas não seja definitiva, ora, talvez uma espécie de improvável vida após a morte tranquilize a nós todos. Infelizmente, tenho, por observação de fatos, que, como todos que nasceram há mais de 125 anos já fizeram, vou morrer no fim de minha história, e não me importo nem um pouco se será triste ou não (nem estarei aqui para chorar o sorrir). Desde que meu peixinho morreu e percebi que o cadáver da branca de neve já estava decomposto, somente aquela faísca de eternidade das coisas que não são vidas me tranquilizam, e chego a invejar as pedras por serem, à minha humana e limitada visão, etéreas.

Por mais feliz que você seja (ou esteja, já que "a tristeza não tem fim, mas a felicidade sim"), a vida é sempre triste se contada até o fim. Não conte.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Internpretações para o paradoxo de Tostines e outros




"Será que Tostines vende mais porque é bom ou é bom porque vende mais?". Essa pergunta vem assolando mentes ridículas durante anos. Ora, é óbvio que é bom porque tem mais investimento e gordura trans e vende mais porque tem mais propaganda. Além do mais, é possível algo ser recíproco, ou seja, vender mais porque é bom e ser bom porque vende mais. É o que chamamos feedback positivo. Há certo estímulo gerado por um primeiro corpo que age em certo segundo corpo, que, em resposta, estimula o primeiro.

Enfim, há algumas interpretações dignas de dúvida desse "paradoxo de Tostines", aplicados, é claro, a outras situações.
Exemplos:

-"Toda gordinha está sempre de dieta. Ela é gordinha porque está de dieta." Tudo bem, essa é uma afirmação falsa. Mas ainda desconfio um pouco...

-"Todo o cara bombado vai pra academia de toalinha nas costas; ele vai pra academia de toalinha porque é bombado, ou é bombado porque vai pra academia?" Depende. Experiência própria: Há ex-magrelos que já se tornaram bombados indo para a academia de toalinha mas também há gordinhos(as) indo para a academia por 3 anos seguidos todos os dias com a toalinha nas costas. Estão de dieta e continuam assim por anos. Sempre estarão.

O fato é que uma coisa que irrita muito é ver algum bombado indo à academia com uma regatinha e uma toalinha nas costas. Não sei se por inveja ou simplesmente por falta do que se incomodar. São "Rodrigos Ferrazes" não tão exibicionistas e engraçados (não são rappers também, em sua maioria). Os bombados que me perdoem, mas é dos gordinhos de dieta que elas gostam mais.

Mas será que elas gostam mais porque são gordinhos ou são gordinhos porque elas gostam mais? Fico com a segunda opção, mas sem muita certeza.

ps: Acabei de me lembrar que Tostines não é tão bom.

Simplicidade e profundidade

Aquele clichê de que, no fundo, estamos sempre sozinhos, é uma afirmação simples e profunda. Estamos sozinhos porque só nós mesmos controlamos nossos pensamentos e temos nossa consciência, essa coisa que chamamos de alma que é algum livre-arbítrio extrínseco a neurônios e neurotransmissores. Dentro da barreira física do nosso corpo estamos sozinhos.

A presença de uma pessoa no mesmo cômodo é a definição de se estar acompanhado? A existência de algum amigo que tenha alguma referência análoga em meu cérebro (ele não pode estar físicamente em meu cérebro) é não estar sozinho? A existência de um ser humano no mundo me livra da solidão? A existência histórica de amigos ou de humanos que se foram na mesma condição de miséria humana livra-me de estar só? Creio que não.

No fundo, somos todos sós, as interações humanas são superficiais (não por opção - isso não é um discurso moralista afimando que devemos todos ter relações mais profundas), e mesmo quando converso e interajo com amigos, e quando amo, e quando abraço, estou só em meu cérebro (e alma) e só tenho certeza da existência da minha consciencia (e de minha solitude e finitude). Quando deixar de existir, só eu deixarei. O que chamamos de estar acompanhado é presenciar uma solidão tão patética quanto a nossa e ser presenciado, reciprocamente sádicos. Fazer mil amigos não salva ninguém da solidão.

Por vezes, chama-se gênio alguém com frases atribuidas que, à primeira vista parecem tolas. Não sei se foi a intenção, mas algo a concluir-se nesse texto vem de um considerado gênio, mas que diz coisas simples e profundas, porém, clichês. Arthur Schopenhauer disse "Ser feliz é bastar-se a sí mesmo". A necessidade de perseguir companhias e buscar segurança em amigos é ilusória.


Reflexo de cinzas


meus olhos refletem o espelho me refletindo
calado, velho e cinzento
agradeço ao tempo por ter-me queimado, violento
e feito-me de lenha fogo e de fogo cinzas

Não padecerei lenha, e te credito, tempo
essa façanha - obrigado por tudo
como reflete no mar sonoro o céu mudo

cinzento de fim de tarde, agradecendo pela manhã de sol.

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só coloquei esse terceiro texto porque os outros dois eram muito chatos de ler, então se alguém vir aqui ver "o que ele postou", algo pouco provável a não ser que eu tenha pedido, pelo menos terá paciência de ler este terceiro.

ps: se alguem realmente ler alguma coisa aqui deixa um comentario ou me fala. Pode ser anonimo me xingando ou qualquer coisa, mas eu queria saber se alguém vê isso, até coloco no orkut pra todo mundo ver e ler e ver que sou uma bixinha que escrevo poesia hehe

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O cachorro falante e pensante




"Rex, eu jogo o pauzinho e você busca! Vai rex, vai rex" O dono fica inutilmente baçançando um pequeno pedaço de madeira rapidamente em volta da cabeça do pobre vira-latas, que nem se move, e faz uma humana cara de reprovação.

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"Reeeeeeex, vai buscar, vai! Vou jogar lá e você busca, vamos! Vamos!" Ele tenta correr com o predaço de madeira na mão para o cachorro seguí-lo, mas Rex continua apático. Olha para o dono nos olhos e depois vira o rosto e fica fitando o nada, entediado.

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"Vamos, rex! Vem, vem! Vai lá garoto!".

Rex perde a paciência:

"Escuta aqui cara, como se faz esse jogo de ir buscar a vareta?" Sim, Rex sabe falar.

"Ó, meu Deus Rex! Você fala! Que lindo! Parece um filme!" O dono alegra-se demais. Alegria não
contagiante o suficiente para que o vira-latas esboçasse alguma alteração em sua cara de poucos amigos. O canino fica alguns segundos calado, mas quebra seu silêncio com certa impaciência:
"Como se faz esse jogo de buscar o pau?" Rex late baixo e sério

"Eu jogo a vareta, você corre atrás dela, pega, e me devolve ela aqui na minha mão" o dono responde falando devagar e didáticamente, como se o cachorro fosse uma criança pequena com dificuldade de entendimento.

"Cara, se você já está com a vareta na mão, para que vai me fazer correr atrás dela e trazer pra você ficar com ela na mão de novo?" Rex retruca desanimado.

O dono fica pensativo. Ele olha pro nada, faz esforço para achar algum sentido nisso tudo. Olha pro cachorro, finalmente, com certa estranheza, e responde:
"au-au".

E, sério (até meio decepcionado), vai pra dentro de casa, deixando ali aquele cachorro humano e sem-graça. Pra que serve um cachorro que não tem a alegria contagiante e inocente daqueles que nem pensam no sentido das coisas? (e não se tornam cinzentos ao descobrir que não há sentido algum para nada).

quarta-feira, 14 de abril de 2010


Pedrinha

Chuto, despreocupado, uma pequena pedra
-Há quanto tempo essa pedra existe?
é mais velha que eu
E quantos anos 'inda há de existir?
muito mais anos que hei.
A chuto para longe, com força. Com inveja
e ela, inerte, não morre (se morresse, nem se imporaria)
e ainda me machuca o pé, com ironia