quinta-feira, 29 de abril de 2010

Internpretações para o paradoxo de Tostines e outros




"Será que Tostines vende mais porque é bom ou é bom porque vende mais?". Essa pergunta vem assolando mentes ridículas durante anos. Ora, é óbvio que é bom porque tem mais investimento e gordura trans e vende mais porque tem mais propaganda. Além do mais, é possível algo ser recíproco, ou seja, vender mais porque é bom e ser bom porque vende mais. É o que chamamos feedback positivo. Há certo estímulo gerado por um primeiro corpo que age em certo segundo corpo, que, em resposta, estimula o primeiro.

Enfim, há algumas interpretações dignas de dúvida desse "paradoxo de Tostines", aplicados, é claro, a outras situações.
Exemplos:

-"Toda gordinha está sempre de dieta. Ela é gordinha porque está de dieta." Tudo bem, essa é uma afirmação falsa. Mas ainda desconfio um pouco...

-"Todo o cara bombado vai pra academia de toalinha nas costas; ele vai pra academia de toalinha porque é bombado, ou é bombado porque vai pra academia?" Depende. Experiência própria: Há ex-magrelos que já se tornaram bombados indo para a academia de toalinha mas também há gordinhos(as) indo para a academia por 3 anos seguidos todos os dias com a toalinha nas costas. Estão de dieta e continuam assim por anos. Sempre estarão.

O fato é que uma coisa que irrita muito é ver algum bombado indo à academia com uma regatinha e uma toalinha nas costas. Não sei se por inveja ou simplesmente por falta do que se incomodar. São "Rodrigos Ferrazes" não tão exibicionistas e engraçados (não são rappers também, em sua maioria). Os bombados que me perdoem, mas é dos gordinhos de dieta que elas gostam mais.

Mas será que elas gostam mais porque são gordinhos ou são gordinhos porque elas gostam mais? Fico com a segunda opção, mas sem muita certeza.

ps: Acabei de me lembrar que Tostines não é tão bom.

Simplicidade e profundidade

Aquele clichê de que, no fundo, estamos sempre sozinhos, é uma afirmação simples e profunda. Estamos sozinhos porque só nós mesmos controlamos nossos pensamentos e temos nossa consciência, essa coisa que chamamos de alma que é algum livre-arbítrio extrínseco a neurônios e neurotransmissores. Dentro da barreira física do nosso corpo estamos sozinhos.

A presença de uma pessoa no mesmo cômodo é a definição de se estar acompanhado? A existência de algum amigo que tenha alguma referência análoga em meu cérebro (ele não pode estar físicamente em meu cérebro) é não estar sozinho? A existência de um ser humano no mundo me livra da solidão? A existência histórica de amigos ou de humanos que se foram na mesma condição de miséria humana livra-me de estar só? Creio que não.

No fundo, somos todos sós, as interações humanas são superficiais (não por opção - isso não é um discurso moralista afimando que devemos todos ter relações mais profundas), e mesmo quando converso e interajo com amigos, e quando amo, e quando abraço, estou só em meu cérebro (e alma) e só tenho certeza da existência da minha consciencia (e de minha solitude e finitude). Quando deixar de existir, só eu deixarei. O que chamamos de estar acompanhado é presenciar uma solidão tão patética quanto a nossa e ser presenciado, reciprocamente sádicos. Fazer mil amigos não salva ninguém da solidão.

Por vezes, chama-se gênio alguém com frases atribuidas que, à primeira vista parecem tolas. Não sei se foi a intenção, mas algo a concluir-se nesse texto vem de um considerado gênio, mas que diz coisas simples e profundas, porém, clichês. Arthur Schopenhauer disse "Ser feliz é bastar-se a sí mesmo". A necessidade de perseguir companhias e buscar segurança em amigos é ilusória.


Reflexo de cinzas


meus olhos refletem o espelho me refletindo
calado, velho e cinzento
agradeço ao tempo por ter-me queimado, violento
e feito-me de lenha fogo e de fogo cinzas

Não padecerei lenha, e te credito, tempo
essa façanha - obrigado por tudo
como reflete no mar sonoro o céu mudo

cinzento de fim de tarde, agradecendo pela manhã de sol.

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só coloquei esse terceiro texto porque os outros dois eram muito chatos de ler, então se alguém vir aqui ver "o que ele postou", algo pouco provável a não ser que eu tenha pedido, pelo menos terá paciência de ler este terceiro.

ps: se alguem realmente ler alguma coisa aqui deixa um comentario ou me fala. Pode ser anonimo me xingando ou qualquer coisa, mas eu queria saber se alguém vê isso, até coloco no orkut pra todo mundo ver e ler e ver que sou uma bixinha que escrevo poesia hehe

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O cachorro falante e pensante




"Rex, eu jogo o pauzinho e você busca! Vai rex, vai rex" O dono fica inutilmente baçançando um pequeno pedaço de madeira rapidamente em volta da cabeça do pobre vira-latas, que nem se move, e faz uma humana cara de reprovação.

.

"Reeeeeeex, vai buscar, vai! Vou jogar lá e você busca, vamos! Vamos!" Ele tenta correr com o predaço de madeira na mão para o cachorro seguí-lo, mas Rex continua apático. Olha para o dono nos olhos e depois vira o rosto e fica fitando o nada, entediado.

.

"Vamos, rex! Vem, vem! Vai lá garoto!".

Rex perde a paciência:

"Escuta aqui cara, como se faz esse jogo de ir buscar a vareta?" Sim, Rex sabe falar.

"Ó, meu Deus Rex! Você fala! Que lindo! Parece um filme!" O dono alegra-se demais. Alegria não
contagiante o suficiente para que o vira-latas esboçasse alguma alteração em sua cara de poucos amigos. O canino fica alguns segundos calado, mas quebra seu silêncio com certa impaciência:
"Como se faz esse jogo de buscar o pau?" Rex late baixo e sério

"Eu jogo a vareta, você corre atrás dela, pega, e me devolve ela aqui na minha mão" o dono responde falando devagar e didáticamente, como se o cachorro fosse uma criança pequena com dificuldade de entendimento.

"Cara, se você já está com a vareta na mão, para que vai me fazer correr atrás dela e trazer pra você ficar com ela na mão de novo?" Rex retruca desanimado.

O dono fica pensativo. Ele olha pro nada, faz esforço para achar algum sentido nisso tudo. Olha pro cachorro, finalmente, com certa estranheza, e responde:
"au-au".

E, sério (até meio decepcionado), vai pra dentro de casa, deixando ali aquele cachorro humano e sem-graça. Pra que serve um cachorro que não tem a alegria contagiante e inocente daqueles que nem pensam no sentido das coisas? (e não se tornam cinzentos ao descobrir que não há sentido algum para nada).

quarta-feira, 14 de abril de 2010


Pedrinha

Chuto, despreocupado, uma pequena pedra
-Há quanto tempo essa pedra existe?
é mais velha que eu
E quantos anos 'inda há de existir?
muito mais anos que hei.
A chuto para longe, com força. Com inveja
e ela, inerte, não morre (se morresse, nem se imporaria)
e ainda me machuca o pé, com ironia

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"esse pessoalzinho de classe média tá muito iludido por TV, revista, etc.."

COTAS

O grande problema das atitudes erradas é que, muitas vezes, elas não são feitas de maneira mal intencionada. Quem quer acabar, por exemplo, com as cotas para alunos de escola pública em faculdades federais, realmente acha que:

1. Mesmo os estudantes de escolas públicas tendo estudado em escolas terríveis, poderiam ter-se esforçado mais e passado no vestibular concorrido com ele mesmo (que além de pagar mais de R$500,00 em um terceirão, ainda fez todos os cursinhos possíveis).

2. Acham injusto porque os pais, mesmo não sendo ricos, priorizaram a educação e pagaram escola particular para os filhos. Esses não sabem que uma escola particular boa é MAIS CARA que um salário mínimo. Quem recebe um ou dois salários mínimos teria de abrir mão de comer, morar, ter roupas, e de qualquer forma paga de lazer para dar conta da educação de UM dos filhos (estatísticamente, a pobreza, no Brasil, é acompanhada de certo excesso de filhos - com certeza, não intencional). Não ser rico é uma coisa, ser pobre, é outra.

Os filhos de quem não pode pagar uma escola particular não entravam na universidade. Sem ter um talento inato excepcional e evidente (grande maioria dos casos), não conseguem bons empregos. Não ganham muito mais que um salário mínimo e têm, também, mais de um ou dois filhos sem a mínima possibilidade de receber estudo decente. Portanto, sem o talendo inato, não passados pelos genes paternos, seguiam o mesmo caminho dos pais e avós.

É claro que, havendo um ensino público de boa qualidade, não haveria necessidade de implantar cotas. Mas ainda há: Violência nas escolas, possibilidade de ganhar (muito) mais que um salário mínimo com o tráfico, revolta social, falta de instrução dos pais, violência no local onde moram, entre outra centena de problemas para jovens de escolas públicas. São problemas que escancaram-se em locais pouco longe dos "apartamentinho na zona sul" (metafóricamente falando) onde moram os outros jóvens, NÓS, que não vemos nem vivemos tudo isso, e ficamos indignados porque "estudamos que nem um condenado por um ano inteirinho para nada! Para um BURRO fazer metade de minha pontuação e passar! Agora, mais um ano de estudo ou vou trabalhar na empresa do pai". Menos um ciclo de vidas sem razão em meio à violência, menos um ganhando um salário mínimo, sem possibilidade de ascensão, e tendo uma dúzia de filhos. Não há razão para reclamar.

*um grande amigo meu não passou no vestibular por causa das cotas e nem por isso ficou dando o showzinho burguês que se houve pelos cursinhos. E raspamos o cabelo dele sem queres porque esquecemos que existia cotas (HEHEHHEHEHE)