terça-feira, 25 de maio de 2010

O porquê da poesia ser mais chata que a prosa e outros

Não há sentido nenhum que eu possa compreender em diversas poesias. Por mais que eu me esforce para fazê-lo, só as velhas professoras cheias de criatividade e interesse podem aferir significador improváveis para textos incompreensíveis como poesias, tendo algo semelhante a um orgasmo ao perceber uma catacrese ou uma metonímia (palavras tão feias e apoéticas), enquanto a população leiga, no máximo, vê alguma graça em alguma rima (há um Quintana de exceção). Em outras, o sentido é claro, mas não enche os olhos, somente narra algum fato prosaicamente. A poesia é, portanto, ou incompreensível por simplesmente não exprimir significado lógico, somente artístico; ou prosa, visto que é lógica, porém não arte.
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O motivo disso é que a poesia, ao contrário da prosa, é feita para agradar o autor, e não o leitor. Ela é, muitas vezes, enquanto arte, uma roupa fina que alguem teceu para admirar-se em frente ao espelho, e distinguir-se do povo cinzento que caminha nas ruas. Vez ou outra, porém, ela cabe perfeitamente em outras pessoas, agrandando-as, eventualmente, mais que ao próprio autor. Para outras pessoas, ela não tem nem pé nem cabeça.

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Como homem, ogro e indelicado, não compreendo bem Cecília Meireles, ao passo que mulheres sensíveis o fazem perfeitamente bem. Posso compreender com minha visão simplista Mário Quintana (e desconfio de que todos possam) assim como Fernando Pessoa pela multiplicidade de facetas. Suas roupas me cabem perfeitamente bem. Professoras velhas de português têm, em geral, o "corpo poético" adequado para qualquer roupa que experimentem. Ou ao menos, ao verem-se no espelho vestidas de poemas, enganem a si próprias: "não está tão ruim assim..." e acham lá alguma figura de linguagem para admirar.

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O Fim

Infelizmente, ninguém vive feliz pra sempre. Os contos de fada são meras simulações de vida eterna contadas para crianças que terão essa ilusão desfeita pela morte do peixinho mais tarde. Assim como o peixinho se foi, a branca de neve, os sete anões, a bela adormecida, estão todos mortos (Dercy e Michael Jackson, por incrível que pareça, também), portanto, não estão vivos, muito menos felizes para sempre.

Se no filme, o mocinho não morreu na guerra e casou com o amor de sua vida, eles depois hão de ter ficado velhos e infelizes, morrendo logo em seguida. Em qualquer filme que se passe em tempo anterior a 1890, todos os personagens já estão mortos, e, mesmo se esse fato não ficar claro no cinema, mesmo que, durante o filme, tenham sobrevivido aos maiores perigos, os personagens já padeceram de modo que, se exibida sua agonia, faria com que as velhinhas do cinema c
horassem silenciosas.

Feita esta nem tão breve introdução, deixo claro que não acho ruim que as histórias sejam contadas pela metade. De fato, acho ideal. A utopia de vida eterna, ou ao menos de continuidade da mesma a curto prazo, é o analgésico que usamos para superar o medo da morte, o maior e mais irremediável (talvez o ÚNICO irremediável medo). A impressão correta de que tudo no fim é morte, é nada, e que esse nada nos é completamente subjetivo e desconhecido assusta tanto que não deve ser levada a todas as cabeças pensantes e não-pensantes do mundo, evitando-se que vivamos todos com o medo aflorando a cada segundo. Escondam a morte das crianças e dos inseguros.
Keynes fez questão de falar, lá pela década de 20, que todos estaremos mortos a longo prazo, e isto me assusta e me conforta. Assusto pelo simples significado da frase, que me relembra que a morte me espera certo dia. E alivia porque a citação que faço tem mais tempo de vida que seu autor. A citação é imortal, a palavra o é. E ainda posso citar Platão, Jesus, entre outros, donos de frases e escritos que sobrevivem milhares de anos, que beiram a eternidade se comparados ao tempo de uma vida humana. Até mesmo Sócrates, que viveu há quase 2500 anos e não deixava registros escritos é lembrado. É um alento, uma faísca de eternidade que aparece na entrelinha dessas vidas humanas que vão e vem todos os dias.

Minha vida não é feliz nem triste. Já tive perdas e ganhos, e sei de infortúnios maiores e menores. Torço sem saber por que para que ela se prolongue o máximo possível, e que seja como uma grande produção hollywoodiana que deu certo e vai ter diversas continuações. E que mesmo a última delas não seja definitiva, ora, talvez uma espécie de improvável vida após a morte tranquilize a nós todos. Infelizmente, tenho, por observação de fatos, que, como todos que nasceram há mais de 125 anos já fizeram, vou morrer no fim de minha história, e não me importo nem um pouco se será triste ou não (nem estarei aqui para chorar o sorrir). Desde que meu peixinho morreu e percebi que o cadáver da branca de neve já estava decomposto, somente aquela faísca de eternidade das coisas que não são vidas me tranquilizam, e chego a invejar as pedras por serem, à minha humana e limitada visão, etéreas.

Por mais feliz que você seja (ou esteja, já que "a tristeza não tem fim, mas a felicidade sim"), a vida é sempre triste se contada até o fim. Não conte.