quinta-feira, 10 de março de 2011

Meu medo e o picolé derretendo


Meu medo

"O grito" de Munch

Procurar não se prender a conceitos que não são intrínsecos do universo prejudica o entendimento do mesmo: As palavras, por serem somente símbolos, e nunca representação perfeita de algo existente, muitas vezes, acabam por nos enganar.

Eu tenho medo de morrer, quase todos têm. Mas meu medo não é somente daquele destino em cujo os céticos creêm, de que ao se morrer, acaba "tudo" e um eterno "nada" ocorrerá com nossa "vida" (ou nossa consciência? Alma?). Tenho medo do post-mortem católico também: Uma eterna vida no "Céu", feliz ao lado de "Deus". Ou o conceito budista de meditar eternamente ao lado de Buda. Pois nessas três teorias, há algo em comum: A "vida" (ou o "nada") após a morte é eterna.

A vida é efêmera, e por isso gosto dela. A eternidade me causa arrepios, é meu maior medo: Viver ETERNAMENTE, perdendo-se no tempo, sem significado, vagando PARA SEMPRE. Acho que não pensamos muito no PARA SEMPRE. É um conceito abstrato sobre outro conceito abstrato que é o tempo. O PARA SEMPRE não são 100 anos, não são 200. Eu gostaria de viver mil anos que fossem. Mas o ETERNAMENTE é sufocante. Se vivêssemos eternamente, fariamos tudo que é possível se fazer, infinitas vezes, sem objetivo algum, desesperando-nos por conhecer mais, por ver o desconhecido. É claro que um eterno NADA (não-existência de consciência) me assusta mais que uma eterna VIDA (no Céu(?), consciente), porém ambos são assustadores.

Não é a eternidade em si que me assusta (na verdade ela me intriga), e sim a eternidade da consciência. O maior medo que tenho é de ter, após morrer, uma consciência eterna e sem corpo após minha morte: PENSAR PARA TODO O SEMPRE, SEM TER UM CORPO, como um cérebro em um balde. Não por 100 anos, não por 200: PARA SEMPRE. Dia após dia aguardando em vão poder fazer algo diferente de PENSAR.

As palavras às quais nos prendemos fazem parecer que o homem teme a efemeridade da vida, mas pensando um pouco mais profundamente, temos medo mesmo é da eternidade, prisão que inevitavelmente se apresentará de alguma forma (seja em forma de "nada" ou de "vida"), pois creio, leigo, que o tempo no universo é infinito, e se não for, precisaria de um conceito tão abstrato que me assusta.




O picolé, a árvore a lâmpada




Começa
a inexplicável
vida, vazia em sentido.
Fardo de todos, pesado
Peça desprovida de ensaio
a qual é, antagonicamente,
longa, curta; alegre, triste.
É como a poesia, que vaza,
nas páginas limpas do livro.
Os livros parecem sem fim,
quando lêem-se os prefácios
mas escorrem com o correr
dos olhos.
A vida
é feito
Poesia


A vida,
palavra vazia,
ávida por significado
para si e para tudo mais,
vai crescendo, escondida
no universo. E vai findando
aos poucos, bem poucos. E,
deixando de ser infinita, ela,
a vida, capítulo por capítulo,
derrete, vaza; sorrateira
escorre pela página
inteira
a vida
é feito
Livro


Ao fim
a vida, outrora
aparentemente eterna
reflete sobre ela própria:
Quem sabe se compreenda
numa lógica idéia, Escorre
não na página do livro,
não na rima do poeta;
no universo, enfim,
já que é vida,
ela derrete.
A vida
é feito

picolé
no Sol

E no derreter, quem sabe, terá uma idéia do sentido que ela mesma teve.



Que bonitinho, uma poesia com forma. O outro texto está um pouco mal-escrito e sem revisão alguma (são 5:00 e acadei de escrevê-lo), mas acho interessante a idéia de que temos medo da coisa errada, e apavorante a parte que fala sobre o que MAIS TENHO MEDO. uuuuhhhh

2 comentários:

Ana disse...

Vai que quando morremos perdemos as memórias e começamos a viver de novo. Para quê? Não sabemos, perdemos a memória. Suposições para o post mortem

Thiago Funk disse...

Na verdade essa possibilidade é reconfortante.