terça-feira, 29 de junho de 2010




O mistério de todas as coisas

Somos, de acordo com todas as teorias não-bobagens espiritualistas, resultado, basicamente de dois fatores: Nossa genética, e o meio onde vivemos.
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Nossa genética determina a forma como reagimos em relação ao meio e às situações que o meio oferece, ou seja, genes que meus pais me passaram, assim como as pessoas, locais e situações com as quais interagir, são suficientes para moldar meu jeito de ser e de condicionar-me a tomar todas as decisões de minha vida. Se tivesse nascido filho dos pais de Hitler, na época e local em que o mesmo nasceu, eu seria um ditador. Se tivesse nascido filho dos pais de Gandhi, no mesmo local e período, seria um pacifista. Mas nasci filho de Isabel e José, levemente posso me considerar um pensador, questionador, além de chato nas horas vagas...
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Agora vamos aos fatos: Se não há nada diferente de genética e meio que tenha-nos feito o que somos, como podemos culpar aquele indivíduo, que só sente, através de suas conexões axonais e dendrítica, o que o meio realiza sobre ele, sem ter nenhuma possibilidade de reação ao meio a não ser aquela possibilitada pela sua genética e experiências anteriores? Que tipo de livre arbítrio o foi concedido para que optasse, por exemplo, por não estuprar alguém, se a única reação possível a uma eventual excitação sexual for um impulso selvagem, inevitável, inquestionável, impunível, porém, de forma alguma impune.
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Que tipo de escolha temos? Deus ou quem quer que nos tenha criado, fê-nos à sua maneira (imagem e semelhança?), deixando-nos à mercê de nossa carga genética (e os filhos de um estuprador, os filhos dos homens maus?) e de nosso meio (e as crianças abandonadas, as abusadas, aquelas que convivem com a violência desde bebê?), os quais justificam a totalidade de nosso caráter e realização de cada uma de nossas ações, não cabendo a nós mesmos ou a ninguém, nem a um ser superior, julgá-las, visto que são resultado da interação de todas as coisas físicas existentes no mundo (o meio e a genética) sem fator extra algum. Somos condicionados, de uma forma ou outra, por interações hormonais, neuronais, ou de qualquer natureza a realizar qualquer ação que tenhamos realizado ou que estão por vir.
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A minha escolha de utilizar o tempo escrevendo e divulgando esse texto foi condicionada por tudo que já recebi do meio até aqui, além é claro, do material contido em meus cromossomas. Eles sopram no meu ouvido "questione, cara, um dia você descobre alguma coisa ou pelo menos enrola até ficar bem famoso". Mas nunca descobri nada. Nem fiquei famoso. Talvez meus cromossomos e o meio da pseudo-classe-média-alta de Florianópolis não me condicione a isso.


Quem sabe isso que chamam de alma é o que é responsável por eu ser eu, no sentido do primeiro "eu" citado ser esse não-corpo que tem vida e vê através dos meus olhos, realizando as ações as quais está acondicionado pelo outro "eu" a realizar, todo orgulhoso, achando que tem algum domínio sobre algo. Enquanto o segundo "eu" citado, é aquele que é resultado da genética e do meio, abrangindo um corpo e um cérebro que realiza as ações. Em outras palavras, o primeiro eu é aquele sobre o qual a gente não sabe absolutamente nada, a gente só É "ele". Eu poderia, inclusive, ser o meu primeiro "EU" no corpo e cérebro do Michael Jackson (que seria o segundo "eu") e teria feito tudo que ele fez, o mundo seria exatamente igual, o cérebro dele, igualzinho, mas eu teria a consciência dele, veria pelos olhos dele, pensaria como ele. Mas seria eu (o primeiro) lá dentro, fazendo tudo igual o grande Michael (THIS IS IT) fez. Estaria morto agora, vendo tudo escuro e sem pensar em nada. Enquanto isso ele estaria aqui, se sentindo tão feliz quanto estou me sentindo e escrevendo exatamente o que estou a escrever e com um sentimento triste e recorrente de dualidade: O de ter compreendido alguma coisa, essa conversa profunda sobre os dois "eus" o que é bom; porém, com o sentimento de limitação de não ter qualquer escolha, e de não conseguir transmitir de modo CONCISO a mensagem e as informações que queria.

ps: esqueçam aquela bobagem de filme de "estar no corpo de outra pessoa". Se você está no corpo de outra pessoa , você tem o cérebro dela, e pensa como ela, ou seja, você é ela (seu primeiro eu do texto é você, porque você que sentiria o meio e reagiria a ele; e o segundo é a pessoa, visto que a maneira de sentir e reagir, seria a dela.
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Se abortar é matar, uma punheta é um genocídio. E a natureza é assassina, visto que dos milhões de espermatozóides, só UM, e RARAMENTE, consegue unir seu material genético àquele ovócito e se multiplicar pra um dia ser aquela coisa mais ou menos pensante que, de fato e direito, nasce.

2 comentários:

tocomseuchinel.com disse...

Hahahaha acho muito bom seus textos funk...minha visão à leitura pode ser bem diferente da que voce passa, como de outras pessoas, é claro...mas gosto desse lado explicativo/crítico/sarcástico que você escreve. Acredito que a genética pode ser sim um fator preponderante de uma pessoa, mas como você mesmo disse, o meio sempre altera...os pais podem ajudar a ser que nós somos, mas escolhemos nosso modo de vida depois de um certo tempo...
E independente dessa classe alta predominar (pra mim, só em quantidade) em Florianópolis, acredito que muitos membros dessa classe são apenas o primeiro eu...
Continue escrevendo sim, sempre bom e legal ler seus textos.

Tato Skin disse...

Acho que é mais ou menos assim:
morar em uma esquina.
Se voce não indicar as ruas que se cruzam como saber qual esquina... tudo vaga, eu vago, voce vaga, e fica a eterna pergunta quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha? Vai saber?!!! é isso.