quinta-feira, 21 de outubro de 2010

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS E O SENTIDO DA VIDA

continuando a série de textos longos e cheio de erros no tempo verbal e pontuação, que certamente pouquissimas pessoas tem a paciência de ler...

Medicina Baseada em Evidências e o Sentido da Vida

Há milhões de artigos médicos disponíveis para a leitura, tanto na internet como em livros e revistas. Ninguém em sã consciência os leria, pois além da terminologia dificílima, não são de grande utilidade para a população em geral. Porém, assim como há pessoas que comem grilos e até cobras, há seres perambulando os corredores dos hospitais que apreciam um artigo científico: Eles sabem que o conhecimento que possuem de experiência própria não se compara àquele que adquirem ao estudarem, através dos artigos, todas as evidência que os leva a fazer certo tratamento, procedimento diagnóstico ou a dar um determinado prognóstico aos seus pacientes. Estes seres tem nome e sobrenome: Bons Médicos.

Roberto (ou Dr. Roberto, ou até mesmo MD PhD Roberto) era um desses homens: Dedicado à profissão como poucos, estudava todos os dias, atendia seus pacientes e ainda dava aulas. Não tinha isso como um sacrifício: Era o seu dever como médico. Todos os pacientes que passaram em suas mãos receberam o melhor diagnóstico, o melhor tratamento e tiveram o prognóstico mais preciso possível. Todos ficaram o mais saudáveis possível (ainda que, muitas vezes, o mais saudável que se pode estar seja morto) após suas intervenções baseadas em evidências.

Dr Roberto, um dia, adoeceu. Novo, cinquenta e cinco anos; estilo de vida saudável, caminhava e nadava semanalmente. Mas o legado de hipertensos e diabéticos com complicações cardíacas precoce que dizimava os ascendentes da família materna antes dos 60 anos o pegou. Roberto morreu aos 57 anos, após seu terceiro infarto agudo do miocárdio. Todo seu conhecimento morreu ali, naquela enfermaria sombria onde passara os últimos meses de sua vida. Tudo o que lera, aprendera, ensinara acabava ali, no corpo frio sobre a cama fria. Em seu último pensamento ainda questionou-se se jogara sua vida fora estudando. Felizmente morreu antes de se responder.


-Doutor Roberto, foi tudo em vão.

Anos depois (talvez 50), seus pacientes todos morreram, das mais variadas formas. Pouco importava os anos de sobrevida que tiveram após o atendimento do doutor. Pouco importava o que aprenderam, ensinaram, sorriram e choraram depois. Estavam todos mortos, e não recebiam nem davam nada a ninguém a não ser a tristeza de não existirem mais aos que ficaram.

-E as consultas foram vãs.

Muitos e muitos anos passaram e todo o conhecimento deixado por ele, após ser usado de alicerce para conhecimentos ainda mais sólidos, desmoronou e ficou esquecido.

-E os artigos foram em vão.

E no fim nada mais restou do Dr. Roberto e qualquer ação realizada por uma célula aderida a seu organismo foi irrelevante para o andamento do universo. Pouco importava a regulação hormonal que jorrou em seu corpo e o fez feliz ou triste durante a vida; pouco importavam as numerosas conexões elétricas neuronais que ele chegou a ter um dia. Pouco importava tudo: Estava morto e esquecido, como tudo um dia há de ser.

E só então, numa hipotética e provavelmente inexistente consciência após a morte, Roberto percebeu que a evidência mais importante ele nunca chegara a analizar em vida: Das aproximadamente 106.456.367.669 pessoas que viveram na Terra até hoje, 106.456.367.669 morreram. A incidência de morte é altíssima para quem vive. Viver é, sem dúvida, a doença mais comum e mais letal conhecida pelo homem. Viver é irrelevante, tudo é.

9 comentários:

malagueta disse...

nossa! gostei.

Anônimo disse...

realmente não tive paciência de lê-lo.

Anônimo disse...

nossa! que pena!
(de vc, não do Heineken)


Psquiatria manda lembranças!

Thiago Funk disse...

não vivo pensando na morte não, só dou uma pensadinha aqui, depois esqueço.

Anônimo disse...

não estamos falando de morte, mas como se vive.....

Thiago Funk disse...

acho que sua inteligência superior de mestre dos magos com frases curtas e filosóficas não me permitiu compreender o significado de seus comentários profundos.

Por outro lado dizem que não é legal ser alvo de pena, portanto, fico triste por seu comentário, anônimo.

Ana disse...

Mas o viver de uma pessoa não importa os milhões de anos, as milhões de pessoas. O sentir de um dia a mais, relativamente saudável, importa muito para um e para o resto que se dane.
Não foi em vão, nesses dias adicionados, se viveu, se sentiu, se teve esperança.
Como num dos posts mais recentes seu, a eternidade é assustadoramente chata, ou qualquer outra palavra que você usou para a denominar.

Thiago Funk disse...

oi pitti, mas o que passou passou e será só uma memória cheia de alterações que nosso cérebro faz para ser o mais aprazível possível

Anônimo disse...

ei, belo texto. eu gosto do blog também. é bom ter um lugar pra despejar a nossa melancolia quando ela cresce demais.
e é bom mesmo que tu não fique pensando muito na vida/morte.
eu busquei durante algum tempo o sentido da vida, da minha vida. só encontrei uma vontade crescente de morrer. minha mãe, o psiquiatra e o Prozac me convenceram de não seria legal morrer voluntariamente aos 16. acabei desistindo da ideia e não me arrependi.
agora continuo vivendo, não importa como. o jeito é, as vezes, fazer de conta, fingir mesmo.
sabemos, assim como o sujeito no café do Bandeira, "que A VIDA É UMA AGITAÇÃO FEROZ E SEM FINALIDADE, que A VIDA É TRAIÇÃO".
feroz, sem finalidade e sem sentido.
eu ando fingindo que o sentido da minha vida é procrastinar a morte dos outros. vou gastar algumas noites sem dormir lendo artigos e, claro, algumas bebendo. sem ressentimentos.