quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O espelho espelha o nada


Hoje acordei meio cedo, indisposto
lavei o rosto, deixei o resto
e me livrei daquele gosto indigesto
não que esse gesto desfaça meu desgosto

e espelhava, o espelho, as olheiras
e eu olhava, olheirado, o espelho
se entreolhavam, os dois, olhos vermelhos:
quatro; aguardando as sextas-feiras

Hoje eu saio cedo e volto tarde
e passarei, em claro, a madrugada
sempre passo, por protesto, contra nada
o "nada" habita minha vida, covarde

carrego olheiras porque acordo cedo
porque caminho, sem sentido, na cidade
olhos vermelhos de infelicidade
e desgosto; e rotina; e sono; e medo

pois sou covarde e sou nada
covardemente os dias passam sem sentido
agora sem métrica, sem rima, sem rumo:
espelha, o espelho, o nada: Eu!


a última estrofe não rima, mas ela avisa que não vai rimar.
esse é um texto com grandes possibilidades de ser apagado em breve por "insuficiência de qualidade" para permanecer aqui, hehe.

3 comentários:

Marina Bousfield disse...

Não o coloquei na prateleira dos "sem suficiência pra permanecer no teu blog". gostei. Fazia tempo que não abandonavas tuas longas e temáticas prosas.

Marcelo R. Rezende disse...

Mas ele tem uma suficiência de qualidade danada, moço!

Gosto desses olhares confusos dum dia, de uma pessoa e das sensações. Gosto do que não completa, a gente é quem o faz.

Gostei muito.

Tato Skin disse...

Perfeito....
Quem precisa de rimas quando o escrito-poema se faz calar?!
Prá que ser metódico, se sobra sentimentos.
Interessante-dúbio, um verso-reverso de sentido-emoção que passa, faz, vai embora e retorna, com o jeito de ser e os dias(vida)... Sim ... gostei!
mk