terça-feira, 30 de novembro de 2010

Proólogo: Professores de arte têm a definição de sublime melhor que a de um dicionário (que por sua vez, tem todas as demais definições melhores que as dos professores de arte). A arte sublime é aquela que contém todos os aspectos da arte: Técnica, expressão, beleza, entre outros. Enfim, não cabe a mim definir a arte sublime, já que não sei apreciá-la devidamente. Descreverei portanto, algo que conheci em 2010, um momento sublime. Um momento sublime é um momento onde todos os aspectos da vida são agradáveis: A temperatura, o som, o gosto, as memórias, são todos positivos e aparentemente eternos (o que, de certa forma, contraria a própria vida - fato aceitável - já que a vida é presumidamente infeliz) É como o sentimento do jogador que acaba de fazer um gol na final da copa do mundo, sem a euforia. É um deleite que parece, realmente, sem fim. Em um momento sublime flutuamos (metaforicamente, é claro).



1'39''

Espero que um dia eu seja um senhor sofisticado. Que saiba cozinhar, apreciar boa música e boa companhia; quem sabe até um bom vinho (hoje, só gosto mesmo do Campo Largo tinto: Quase quatro reais e não precisa de saca-rolhas), uma conversa saudosista e uns sorrisos sinceros de saudade. Quem sabe um dia eu dê risada de como eu era irresponsável e despreocupado, de como me divertia com um churrasco quase cru feito pelo Mineiro em Laguna, cerveja e meus amigos, e pensaria: "Ora, essa era minha idéia de dia ideal quando tinha 19 anos!"

Talvez, então, eu, "velho", considerasse ideal um domingo acordando meio dia, churrasco com os filhos, talvez alguns bons amigos, cervejinha. Crianças indo dormir na casa da avó e uma noite romântica com minha esposa (não que me imagine, necessariamente, casado). Uma noite romântica, incrivelmente, envolveria um JANTAR! Fico imaginando se em algum momento desse dia o mundo pararia comigo no centro dele, em um êxtase silêncioso, um minuto de felicidade plena, sem qualquer pensamento ruim atrapalhando. Um momento sublime. Acho que sim. Talvez por alguns segundos isso acontecesse.

Mas os segundos são fugídeos e passam, cada um, em um segundo! E logo o dia iria escurecer, o tempo iria passar, e a reunião que eu tinha marcado com alguem de quem eu nem mesmo gostava, segunda-feira, para fazer negócios, já invadiria minha mente impiedosamente. A felicidade adulta é efêmera. Seus picos são raros, e cada pequena alegria (jantar, vinho, conversa, companhia) é insuficiente, mas reconfortante. Talvez por isso sejam todos tão saudosistas.

Talvez, quando adulto, eu tenha momentos sublimes. Porém, o mais longo e sublime dos momentos de minha vida, creio já ter vivido, o que me faz, por um lado, feliz, justamente por tê-lo vivido e sabido do quão sublime foi. E por outro, triste, por ter pouca esperança de repetí-lo.

Era um dia de Feveiro. E era típico de fevereiro, portanto, canaval. Eu e doze amigos em Laguna, em uma casa onde cabiam, estourando, oito. O chão grudava de cerveja derramada. O miojo estava na mesa, e todos comiam, menos eu. Já tinha terminado, e não aguentava mais miojo (ainda mais naquela leva onde havia o miojo do sabor CAMARÃO). Fiquei ali sentado na escada que dava acesso ao segundo andar, tomando uma cervejinha, conversando e rindo com todos. A cada poucos minutos subia e trocava de música (havia uma caixa de som eternamente ligada no andar de cima), colocando sempre alguma que fosse causar repercussões como o pessoal começar a me criticar, elogiar, cantarem como loucos, ou sairem todos dançando (essa era a reação típica à música do Top Gear da fase de Los Angeles). Todos terminaram de comer, cada um lavou seu prato, e ficaram por ali, alguns conversando, outros "cesteando". Fui até uma das varandas, para a qual o acesso era somente via janela, já que a porta estava emperrada. E, com o perdão de fazê-los imaginarem a cena, de cuecas, deitei-me sob o sol escaldante do meio dia. Ventava uma brisa fria que contrabalanceava perfeitamente o calor. Liguei o Ipod de algum deles, acho que do Carlos, e cliquei em no "Random". Por 1 minuto e 39 segundos flutuei, de cuécas em uma varanda em laguna, carnaval, praia, amigos, bebida, mulher, Seaside.

Espero que um dia eu seja um senhor sofisticado, mas que ainda sinta prazer no miojo, no churrasquinho mal feito, na geladeira vazia em não-alcoolicos, do "ponche" do Pufinho, dos condimentos para miojo do Tunico, da minha casa na areia da praia, do violão (mal) tocado pelo Carlos, da risada amigável do Edegar. Espero, porque o vinho caro e o jantar sofisticado; a vida de médico e os negócios; as férias com os filhos e a esposa; Nada do que possa acontecer em uma vida possivel vida ideal futura poderia ser tão sublime (ou, de acordo com o Aurélio, Elevado acima de todos) quanto aquela breve solidão, antagonicamente em meio aos meus amigos, escutando Seaside.

Um comentário:

Unknown disse...

A vida adulta sabe ter seus momentos sublimes: quando você acorda no meio da noite e vai ao quarto dos filhos e eles estão lá. Quando você consegue reunir a família para um jantar e faz uma jantar elaborado ou um miojo (no caso, galinha caipira). Quando você se da conta de que ainda é feliz e apaixonado pela pessoa de quem está junto há 26 anos. Quando um filho passa no vestibular. Quando um filho vai a sua primeira festa à noite... Enfim.... Mas a leveza e a tranquilidade dos 20 anos é que permite vivermos com a maior intensidade possível estes momentos, e essa leveza e tranquilidae só se tem aos 20 anos. Portanto...